“A gente se sente realizado produzindo frutas puras”, afirma o dono do sítio Sant´Anna, localizado em Boava, a 17 quilômetros do centro de São Joaquim, na serra catarinense. Adquirida há duas décadas por seu João e a esposa, Maria Beatriz Gáss Reichert, já falecida, a propriedade de 20 hectares é especializada na produção de maçã orgânica desde 2000, o que por si só torna o local sintonizado com as metas preconizadas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS).
Depois de vários ajustes, a primeira safra aconteceu em 2004 numa área de 1,5 hectares. De lá para cá, o produtor transformou-se num dos mais atuantes membros do seleto grupo dos 20 agricultores de maçã orgânica certificados em Santa Catarina.
Em contraste com a maioria dos pomares existentes no município conhecido como a Capital da Maçã, no sítio Sant´Anna são cultivadas exclusivamente maçãs Gala e Fuji orgânicas. Foram 35 toneladas em 2020 – e uma previsão de 40 toneladas em 2022 no mesmo pomar – absorvidas em sua totalidade pelo litoral catarinense, onde fazem a alegria dos consumidores ávidos por alimentos saudáveis e obtidos com menos impacto ambiental.
Trata-se de um negócio sustentável, rentável, mas nem por isso menos trabalhoso. Para registrarem faturamento semelhante ao de seu João os produtores convencionais necessitam produzir cinco vezes mais. Além disso, os pomicultores orgânicos devem prestar muita atenção no pomar devido a doenças, conforme ensina o pomicultor:
Não tem aquilo de ir na agropecuária e comprar um produto para resolver problemas nas frutas. Não tens aqueles preparados que se compra na agropecuária para isso ou aquilo. No orgânico a gente muitas vezes tem que formular uma mistura para pulverizar.




O sucesso do negócio deve-se tanto ao empenho pessoal quanto ao apoio técnico recebido: “ Sempre tivemos influência da Epagri, e os técnicos promoviam viagens para o Rio Grande do Sul, onde a agroecologia estava muito avançada. A gente se espelhou nas práticas, nas experiências deles”, relembra o produtor.
Nas visitas ao estado vizinho, no início dos anos 2000, ele e a esposa conheceram e adotaram a única arma para evitar a mosca das frutas, o principal inseto praga das macieiras. Era a técnica do ensacamento, um diferencial para a época, porque os frutos atacados pela mosca ficam com boa aparência, mas ruins por dentro.
A parceria com a Epagri transformou o Sítio Sant’Ana em unidade de observação da extensão rural da Epagri e das unidades de pesquisas de São Joaquim e Caçador da mesma empresa. Os resultados gerados pelas pesquisas desenvolvidas lá são replicados em outras propriedades, partindo-se do princípio que São Joaquim possui um grande potencial em desenvolvimento da cultura orgânica.
Foi assim, com a garra de seu João e a ajuda do extensionismo rural que o trabalhoso ensacamento das frutas foi substituído por um sistema revolucionário de proteção proposto pela Epagri: o envelopamento do pomar:
Quando surgiu a ideia do envelopar, tínhamos o custo do ensacamento. A gente fez a conta de quanto ia sair o envelopamento. E percebemos que em cinco anos o envelopamento vai pagar o investimento. Porque tinha de colocar e recolher os saquinhos. Na época ele saiu por R$ 96 mil o hectare.
Pioneirismo – Há quase dois anos seu João, hoje com 66 anos, faz parte da associação Acolhida na Colônia e vem recebendo grupos de 25 pessoas por conta da parceria. Já veio gente de Florianópolis e de Criciúma participar do programa Portas Abertas. O evento inclui o Colhe-Pague de maçã, mais a venda de produtos elaborados na propriedade de seu João e dos vizinhos, como queijos, geleias, vinhos, sucos de uva e vinagre de maçã.
Maior produtor de maçã do Brasil, Santa Catarina é destaque na atividade não só pelo volume de produção, mas também pela qualidade das frutas. Um alto padrão reconhecido pelo mercado interno e no exterior. São novos cultivares desenvolvidos, mais resistentes e adaptados ao clima local e melhorias nas técnicas de produção e armazenagem. O estado conta com aproximadamente 2 mil produtores da fruta, fora os 20 orgânicos, basicamente agricultores familiares na região de São Joaquim e de Fraiburgo.
Texto: Imara Stallbaum/Fotos: Antonio Carlos Mafalda/Mafalda Press